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NOTÍCIAS DAS REDES: Um Grito Pela Vida - Brasil

A Rede Talitha Kum, “Um Grito Pela Vida” - Brasil, nasceu como uma semente de vida e esperança diante dos milhares de casos, denúncias e histórias de pessoas vítimas do tráfico humano. A coordenadora do novo núcleo local da rede em Sobral/Ceará, Irmã Maria do Socorro Arruda Linhares - Filhas de Sant'Ana, partilha sobre o nascimento do núcleo naquela região, no início deste ano, abrangendo três dioceses do Brasil: Sobral, Itapipoca e Tianguá (SIT). Estas áreas são reconhecidas nacional e internacionalmente como rotas do tráfico humano para grupos em risco: trabalhadores agrícolas, trabalhadores domésticos, jovens desempregados, populações afro e outras minorias como as mulheres transexuais.

 

“Uma das experiências que consideramos importante é o acompanhamento a comunidade LBTQIAP+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais, Assexuais, pansexuais...) principalmente mulheres trans e travestis. Após o regresso ou resgate do tráfico humano, incentivamos as vítimas ao retorno aos estudos, acesso ao empregos, cursos e encaminhamentos aos órgãos públicos para retirada de documentação. Essas iniciativas focam em mitigar os desafios das mulheres trans e travestis, de nossa região, e até mesmo do Brasil, face ao grande número de violências para com essa população. Ressaltamos que o Brasil é o primeiro lugar do mundo em que mais morre essa população e que o Ceará é o estado brasileiro que mais mata a mesma população”. Irmã Maria do Socorro Arruda Linhares

A Rede um Grito pela Vida informou à Talitha Kum International sobre o testemunho comovente de Gris, uma mulher trans traficada do Ceará, Brasil. Quando criança Cris era frequentemente vítima de bullying na escola e julgada pelos seus pares e pelos adultos da sua comunidade. Queria usar vestidos de verão e os sapatos da mãe, mas diziam-lhe sempre que não. Quando tinha 11 anos, decidiu fugir da escola e da casa dos pais para Fortaleza, capital do Ceará. Quando chegou, encontrou uma realidade muito diferente da que lhe tinha sido contada. Foi obrigada a trabalhar na indústria do sexo. Na entrevista, ela expressa a humilhação que sentiu e as lágrimas que derramou quando começou a trabalhar.

"Aos 17 anos, saí de Fortaleza e fui para São Paulo atrás do meu sonho de fazer a cirurgia de transição. Encontrei um emprego e uma pousada perto do meu novo trabalho e o dono parecia simpático. Comecei a sentir uma certa estabilidade na minha vida. Porém, a realidade do albergue era completamente diferente do que eu havia imaginado. Havia cinco moças a viver num quarto. Eram obrigadas a fazer trabalho sexual e todas as noites todo o dinheiro que recolhíamos eram retirados de nós. Não tínhamos comida, tínhamos pouca água e o número de banheiros eram insuficientes. Estávamos em cativeiro privado, éramos exploradas sexualmente e sofríamos muitas formas de violências. Muitas mulheres, incluindo eu própria, acabávamos no hospital, mas não tínhamos documentos e os hospitais ficavam com tudo o que ganhamos, deixando-nos apenas a possibilidade de voltar à mesma vida." – Gris

Uma noite, Gris contou a um dos seus antigos clientes a sua situação, que lhe deu dinheiro e a encorajou a regressar a casa. Gris conseguiu fugir. Atualmente, regressou à escola para terminar o curso na Faculdade de Direito. É também uma parte ativa da Rede Um Grito Pela Vida partilhando a sua história numa tentativa de evitar que mais mulheres transexuais se tornem vítimas de tráfico humano, exortando aqueles que passam por experiências semelhantes a "escolher uma vida digna".

 

"A importância do trabalho da Rede Um Grito Pela Vida é chegar ao maior número de pessoas possíveis, informar as pessoas que estas coisas que estão a acontecer, principalmente informar as pessoas que pensam que estamos nesta vida porque queremos estar, que isso não é verdade." Gris

 

Irmã Maria do Socorro Arruda Linhares - Filhas de Sant'Ana

Núcleo SIT - Um Grito Pela Vida – Brasil

 

10 de maio de 2023