Nesta entrevista, Padre Nicolas Dyemo, Missionário da África, e Irmã Marie Chantal Nikiema, Irmã de Jeanne Delanoue, partilham conosco o nascimento da nova Rede em Mali, no Noroeste da África e os principais desafios da Rede frente ao fenômeno do tráfico no país :

Como iniciou a Rede, em Mali?

Nossos primeiros contatos com a Rede Talitha Kum foram em novembro de 2021. Durante a Assembleia Geral da União de Religiosos Católicos de Mali (URCM) Irmã Marie Chantal Nikiema entrou em contato com o Padre Nicolas Dyemo, responsável pela Comissão de Justiça e Paz e Integridade da Criação-Diálogo Interreligioso (JPIC-DI para convidar-lhe para o Encontro de Formação de Talitha Kum, em Burkina Faso. Ali se estabeleceram os primeiros contatos.

Durante a Oficina de JPIC-DI, em fevereiro de 2022, nosso primeiro objetivo foi entender mais sobre Talitha Kum (seus objetivos, missão e visão e seus métodos de trabalho). Entramos em contato com a Irmã Ivone Clémence Bambara, representante regional para a África e com ela planejamos a primeira formação para sete membros da Comissão JPIC-DI. Esta formação estava prevista para 17 pessoas. Finalmente participaram 20, entre leigos e leigas, Religiosas e Religiosos de diferentes congregações.

O nome de Talitha Kum em Mali é TAKUMA (formado pelas sílabas de cada palavra) e temos previsto estabelecer núcleos TAKUMA nas diversas Dioceses, em Mali. Elaboramos um Plano de Ação nacional com esquemas diocesanos.

Quais foram as razões que levaram à criação da Rede em Mali ?

O tráfico de pessoas em Malí é uma realidade que passa despercebida

En alguns ambientes. De outubro de  2020 a janeiro de 2021, antes de entrar em contato com Talitha Kum, a Comissão de Justiça e Paz e Integridade da Criação – Diálogo Interreligioso (JPIC-DI) da União de Religiosos Católicos de Mali (URCM) realizou uma pesquisa sobre este fenômeno em colaboração com Religiosos e Religiosas que trabalham nas seis Dioceses do país.

A pesquisa mostrou que o tráfico de pessoas é uma realidade em Mali, um prejuízo e um obstáculo para a coesão social. Mali é um país de origem, trânsito e destino para homens, mulheres, meninos e meninas que são vítimas de trabalhos forçados, exploração sexual, migração forçada e outras formas de escravidão moderna dentro e fora do país.

À luz desta realidade, a URCM, unindo forças com Talitha Kum Internacional, encarregou a Comissão JPIC-DI de abordar o tema do tráfico com a finalidade de informar, sensibilizar e promover ações concretas que abordem as causas profundas e sistêmicas do tráfico no país.

Quais são os principais desafios da rede em relação ao fenômeno do tráfico de pessoas em Mali ?

O primeiro grande desafio que enfrentamos foi o reconhecimento da Conferência Episcopal de Mali (CEM). Sem seu apoio seria difícil empreender a colaboração para combater o tráfico.

Até agora, a Oficina JPIC-DI tem trabalhado para dar vida a TAKUMA. Os desafios são enormes. Nós os resumimos em quatro pontos principais :

• A segurança necessária no contexto nacional em que atuamos  ;
• A enorme responsabilidade que este compromisso exige dos membros e colaboradores que trabalham contra o tráfico ;
• A necessidade de formação constante dos membros e colaboradores ; 
• Os recursos necessários para aplicar o Plano de Ação.

Diante desta realidade desumana do tráfico de pessoas, a Palavra de Deus nos interpela sobre nossa missão e compromisso como Vida Consagrada pela liberdade e dignidade. « E eu, diz o Senhor, ouvi o gemido dos israelitas escravizados pelos egípcios, e lembrei-me da minha Aliança. Eu Sou o Senhor, e vou arrancar vocês dos trabalhos dos egípcios, livrarei vocês de sua escravidão e os resgatarei com braços estendidos e com grandes julgamentos » (Ex 6,5-6). E São Paulo escreveria mais tarde « eu me tornei tudo em todos, para que pudesse, por todos os meios, salvar a alguns » (1 Co 9,22b).

De P. Nicolas Dyemo, mf e Irmã Marie Chantal, sjd

Talitha Kum Takuma - Mali