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Um Grito pela Vida: o drama do Covid-19 e o tráfico de pessoas

Uma crise generalizada: o impacto do Covid-19 no Norte e Nordeste do Brazil  e como isto vem influenciando a situação do tráfico de pessoas. 


Como em outros países, no Brasil, a situação está muito difícil, pois a pandemia da Covid-19 está crescendo assustadoramente. Muitas pessoas não respeitam o isolamento social, e não estão levando a sério os cuidados que requer essa doença. Inclusive o próprio presidente Jair Bolsonaro, frequentemente tem desrespeitado as normativas da OMS e criticado o Diretor desta Organização, nem contribuindo financeiramente na pesquisa para o descobrimento da vacina,  descumprindo as orientações do Ministério da Saúde, chegando até trocar o Ministro da Saúde  que no momento estava realizando com competência sua missão de Ministro. O Ministro que está neste momento, não transmite segurança, nem clareza e firmeza em seus posicionamentos e decisões. Com essas  e outras atitudes do Presidente, tem  gerando uma crise política no meio da pandemia,  motivando as pessoas a descumprirem o isolamento social e a irem aos Bancos casas lotéricas para retirarem o Auxilio Emergencial, expondo assim toda a população, num momento que o melhor que podemos  fazer  para  não expandir o contagio, é cada  um ficar em casa.  A crise está muito séria, pois o Brasil até o presente momento ocupa o sexto lugar em numero de mortes causados pela Covid 19, segundo a Organização Mundial de Saúde, atrás dos EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e França.  As  Secretarias Estaduais  confirmam em todo o país  161.63 casos de Covid 19, com 11.040 mortos. Treze   das 20  cidades com maior mortalidade estão no Amazonas.(Conferir noticia no  HTTPS://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05;10/casos -de coronavirus-e número-de-mortes-no-Brasil ).  

Mesmo assim o Presidente insiste em defender a economia, participando de carreatas, provocando aglomerações, usando a máscara incorretamente, forçando os empresários a exigir que as pessoas  voltem ao trabalho, tudo isso com o aval do Ministro da Economia que defende o presidente e suas  posições. 
Nas regiões Norte e Nordeste, os dados do Coronavirus são alarmantes, onde já existia antes da epidemia, um sucateamento das políticas públicas, a situação está mais complicada, pois para uma simples ultra sonografia chega-se a esperar dois anos, falta de médicos especialistas, que em situações normais tem que vir de outros Estados  para consultas e cirurgias. Com a demissão injusta de mais de 22.000 médicos estrangeiros que trabalhavam no Programa Mais Médicos - do governo anterior, estes ficaram sem trabalho e foram repatriados  pelo  governo  atual.  Diante desse quadro de pandemia, “ a região possui a menor proporção de hospitais do país, de baixa e alta complexidades apenas 10% mesmo com as adaptações e  investimento se torna sem condições de atendimento” ( Cf. Carta dos Bispos da Amazônia Brasileira 04 maio 2020 ), pela  falta de medicamentos, e de profissionais da saúde,  muitos médicos e enfermeiros/as foram contaminados pela Covid 19 e vieram a óbitos e  não tem profissionais preparados para substituí-los, concretamente em Manaus, as histórias  são as mais impactantes desta pandemia, assim como   nas capitais do Ceará, Pará, Amapá.
Existe uma super lotação nos hospitais, dezenas de pessoas estão morrendo na porta dos hospitais e dos prontos socorros e as estatísticas divulgadas pelos meios de comunicação não correspondem à realidade. A testagem é insuficiente para saber a real expansão do vírus. Muita gente com evidentes sintomas da doença tem morrido em casa sem assistência médica e avalanche de corpos nos cemitérios, centenas de doentes que não conseguem, sequer, entrar em uma unidade de saúde e acabam morrendo em casa muitos enterrados em valas comuns, mas sem constar na certidão de óbito que eram vítimas do Covid 19. 
O quadro se complica pelo alto índice de vulnerabilidade  sobretudo das comunidades do interior, os ribeirinhos, e  em especial as comunidades indígenas,  que sobrevivem com um nível de imunidade  baixíssimo, sem nenhuma condição para  resistir vários  tipos de doenças, muito  menos  o Covid 19. O índice de letalidade é um dos maiores do país e assistimos com tristeza o colapso do sistema de saúde nas  principais cidades com Manaus e Belém, com previsão de um colapso nacional para daqui há 15 dias.
Além dos povos da floresta, a população vulnerável que vivem nas   periferias, e em condições sub-humanas, fruto da desigualdade social, tomou dimensões imensuráveis sendo qualificado pelo Governo Federal como os INVISÍVEIS.  São milhões de  pessoas que vivem com uma renda inferior a  R$ 500,00 que com a pandemia  conseguiram um Auxilio Emergencial,   segundo o Governo terão receberão três meses este auxilio,  mas  conhecemos muita gente necessitada que não conseguiu esse auxílio pela ineficiência do cadastro,   estão sobrevivendo graças à solidariedade das pessoas, vizinhos, pastorais, ONGs, paróquias que tem arrecadado cestas básicas  e feito as entregas  nas casas das   famílias,  a solidariedade também se manifesta  na  confecção de máscaras que são doadas ás pessoas. Também  temos  organizado e participado de lives  que orientam, debatem  temas relacionadas à violência, aos direitos humanos, e pandemia.  A Rede está sendo  parceira através das agentes nestas ações nas suas paróquias e Núcleos. 


Neste momento de pandemia, não temos nenhum registro de morte de pessoas traficadas, mas sabemos que elas são e serão grandes vítimas do Covid-19 por serem escravas sexuais, exploradas e certamente forçadas a não terem o direito ao isolamento social, nem as prevenções básicas. 
Ainda estamos vivendo a aceleração e aumento da curva desta pandemia, mas com certeza uma vez que passar, vamos nos deparar com as consequências terríveis e teremos um quadro mais gritante e mais elevado das vítimas do abuso, da exploração, do trabalho escravo e da violência sexual de crianças, jovens e mulheres neste imenso Brasil. 

As principais preocupações para as pessoas traficadas.
Com essa pandemia e o isolamento social, todas as atividades planejadas da Rede um Grito pela Vida estão suspensas esperando o momento para recomeçarmos. Tudo precisa ser rearticulado, retomado novamente e reorganizado nos Núcleos e Estados. Todos os Projetos  precisam ser refeitos, pois  sem  verbas e projetos esperando para serem aprovados, tudo fica mais difícil e o desafio se faz maior. 
Mesmo com  isolamento social,  e fechando as fronteiras,  para nos proteger do coronavírus, vemos nas notícias que está aumentando significativamente os casos de abusos sexuais intrafamiliares e as violências físicas e psicológicas contra as mulheres e adolescentes. Ficamos estarrecidas  e com um sentimento de impotência e indignação com a noticia de que  22 adolescentes do Paraguai  foram vítimas do tráfico em São  Paulo e abandonadas na fronteira, neste tempo de pandemia ( Cf. WWW.ultimahora,com 07 de mayo de 2020   ).  Também recebemos uma noticia  do dia 08 de maio,  da G1.globo.com   que no interior do Acre na cidade de Brasileia,  a policia Federal  cumpriu dois mandados de busca e apreensão  em um a ação que investiga o crime de trafico humano de dois adolescentes do Egito, desacompanhados e sem registro de entrada legal. ( Conf.HTTPS://glo.bo/2yHiNeU ). Sabemos que nosso público de atendimento: crianças e mulheres, são as mais vulneráveis;  forçadas a aceitarem a exploração sexual, o trabalho escravo, e não tendo como se prevenir da covid-19, acarreta uma maior facilidade de contaminação e transmissão do vírus. 


Uma vez que temos diferentes níveis de parcerias e efetividade na resolução dos casos, nos perguntamos: que caminhos devemos seguir para fazer as denúncias? A morosidade e descontinuidade dos processos e  atendimento dos gera um desgaste e um descrédito  nas  Instituições  que tem a responsabilidade de investigar acompanhar, respeitando os direitos humanos  e  atuando  com  justiça. São desafios a ser conquistados.

Um Grito pela Vida: come a rede enfrenta este novo desafio num contexto de confinamento dentro de casa.
Sabemos que existem muitas situações de exploração e violência intrafamiliar que se acentuou com o isolamento social. As famílias mais vulneráveis, vivem em moradias precárias, casas muito pequenas sem um espaço adequado para o isolamento. A ineficiência das políticas públicas tem se agravado com a pandemia e tem tornado visível milhares de rostos “invisíveis” que o Governo diz não ter conhecimento, nem saber que existiam. Com isso, as necessidades de sobrevivência se tornam gritantes, pois a fome não espera e muitas paróquias tem acolhido nossos irmãos e irmãs que são moradores de rua. 
Mesmo com a urgência e necessidade do isolamento social para proteger e defender a vida, a violência continua e aumenta a cada dia, sobretudo nas nossas regiões do Norte e Nordeste. Os jovens continuam matando e morrendo. 
Pelo fato de não podermos realizar ações de intervenção social e reuniões presenciais, temos utilizado os meios de comunicação social para realizar algumas reuniões virtuais, divulgar notícias (WattsApp, Skype, facebook, blog e outros), participando em cursos, simpósios, etc que nos são oferecidos por diferentes órgãos de forma virtual, assim mantemos contato e animamos as referenciais de cada região do pais, manifestamos também nosso apoio e solidariedade estando disponíveis para qualquer necessidade ou caso que apareça.
Este momento de crises se torna uma oportunidade para ficarmos alertas, identificar os problemas,  e atuar  como podemos desde o lugar em que estamos e juntas levantar a voz,  animando campanhas e   firmando, pressionando assim o Governo para que defenda e favoreça a vida, a liberdade e a paz. 

De acordo com as orientações do Ministério da saúde do país e da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) todos somos convidados a permanecer em nossas casas para evitar a proliferação do Covid-19. Por isso todas/os participantes da Rede estamos em recolhimento em suas casas, e mesmo assim temos companheiras que estão contaminadas e que estão em tratamento, graças a Deus não estão em quadro grave e não tivemos ainda nenhuma vítima.
Nossa mensagem de esperança e confiamos que tudo isto vai passar, acreditamos no Deus da VIDA que se mantém fiel à sua promessa de estar sempre conosco nas alegrias e nas dificuldades, mantendo viva  nossa utopia: que a humanidade e nosso planeta serão diferentes depois desta pandemia. 

Ir Celestina Veloso Freitas-  ( Tina )  Irmãs Dominicanas da Anunciata  mora  em Vila Verde numa comunidade  rural  na Amazônia Acreana-  Rio Branco Acre  e é membro da Coordenação  Nacional da Rede um Grito pela Vida desde setembro 2018. 

Ir. Rosa Elena Ciprés Díaz – Congregação das Escravas da Imaculada Menina, mora na periferia da cidade de Salvador/Bahia, é membro da Rede um Grito pela Vida desde outubro de 2011 e atualmente é membro da  equipe da Coordenação Nacional.
 

11 de Maio de 2020