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Testemunho da Ir. Roselei Bertoldo, membro da rede Talitha Kum Um grito pela vida Brasil

Sou irmã Roselei Bertoldo faço parte da rede Um Grito Pela Vida, núcleos Manaus Amazonas Brasil sou irmã do Imaculado Coração de Maria.

O que significa para você se comprometer contra o tráfico de pessoas? Em sua opinião, quais são os principais desafios no contexto em que vive?

Desde muito jovem sempre fui muito sensível as realidades de violação de direitos principalmente com relação à vida das mulheres e isso aprendi a partir da experiência do trabalho de minha mãe na defesa e na luta com as mulheres campesinas.  Quando comecei a trabalhar como religiosa com as meninas vítimas do abuso da exploração sexual fui me identificando, a partir dessa realidade e aí como mulher consagrada eu assumo essa grande causa do cuidado da vida das mulheres.  A partir do ano de 2006 através do convite da Conferencia dos Religiosos do Brasil para integrar o grupo que começava um processo de formação sobre a prevenção ao tráfico de pessoas eu  me candidatei para participar, pois eu já tinha um trabalho de prevenção ao abuso e à exploração sexual com meninas e observava muitas realidades que eram muito parecidas com o tráfico de pessoas mas não identificava ainda como tráfico de pessoas e para mim fazer esse processo de capacitação foi me dando um norte e me ajudando a entender a grande importância de trabalhar com pessoas vítimas do tráfico.

A partir daí, desta capacitação eu comecei a trabalhar mais específico a prevenção e a partir da prevenção começou a surgir alguns casos e  eu comecei a me identificar muito com as pessoas vítimas desse crime. Essa identificação ela se deu muito a partir dessa sensibilidade e de sentir no corpo das mulheres toda essa dor todo esse sofrimento,  para mim me comprometer no enfrentamento ao tráfico de pessoas consiste em reunir todos os esforços para combater esse grande crime através da doação da minha vida nesse trabalho e especialmente no atendimento às pessoas que são vítimas desse crime.

A partir do trabalho que a gente realiza para mim o grande desafio é a impunidade e fazer com que as instituições públicas que são competentes para fazer o processo de fato se comprometam em fazer as investigações o que na grande maioria das vezes não acontece. A aqui na Amazônia a gente tem feito várias denúncias e muitas dessas denúncias os casos acabam sendo arquivados por falta de provas Isso significa que nem fazem o processo de investigação é muito mais fácil, isso dificulta o nosso trabalho pois as pessoas acabam caindo no descrédito e acabam não fazendo a denúncia porque sabem que não vai ter justiça porque sabe que seu caso não vai ser investigado. Os casos que são solucionados, a grande maioria deles são aqueles os quais a gente consegue fazer um monitoramento, que a gente consegue acompanhar juntamente com a família, aí a gente percebe que há um resultado.

Outro desafio que para mim é muito forte é a questão que as pessoas não se reconhecem como vítimas desse crime e não se reconhecendo também não buscam ajuda e muitas delas nem sabem que estão sendo aliciados nas redes deste crime,  aí quando escutam alguma coisa relacionada a isso é que vão se identificando e compartilham com a gente a situação pela qual já passaram ou então pela qual estão passando, com isso criam coragem de contar a história de vida mas nem sempre querem denunciar.

Por favor, pode partilhar algumas das experiências mais lindas e das mais sofridas no acompanhamento de vítimas e sobreviventes do tráfico humano (mulheres, crianças, homens, adolescentes), o de pessoas a risco de serem traficadas?

Uma das experiências, não sei se é linda mas mais profundas que eu pude vivenciar durante esse esses anos foi quando eu atendi uma mulher e ela tinha passado por uma situação de tráfico e ela nunca tinha contado para ninguém ela conseguiu se libertar daquela situação e como ela tinha sofrido muito, o senhor que escravizou ela que estuprou que abusava dela que explorava, que Ganhou muito dinheiro partir da exploração dela, ele morreu e ela tinha pedido muito para que ele morresse. Quando ele morreu ela deu  graças a Deus, ela se sentiu muito livre e ela dizia para mim, irmã a morte dele significou a minha liberdade e hoje eu me sinto muito culpada por ter desejado a morte dele e eu carrego isso como um grande pecado, como um grande peso.

Eu falei para ela, que  aquele sentimento de desejar  a morte dele era por conta de todo sofrimento que ela passou, ela olhou para mim me deu um abraço enorme bem apertado e disse irmã depois que eu desabafei com a senhora eu me sinto um passarinho livre fora da gaiola, uma gaiola que eu fui aprisionada e uma gaiola que depois da morte dele eu me aprisionei pela culpa.

Uma experiência que foi muito sofrida foi de não poder ajudar a filha de Lúcia, outra mulher que a gente acompanhou ela foi traficada para Itália. Depois de muito tempo ela conseguiu se libertar e refez a vida, encontrou um companheiro casou e teve dois filhos.Refez a vida, tem dois filhos menor de idade, queria voltar ao Brasil para reencontrar a sua família e o companheiro dela nesse meio tempo se separou e pediu a guarda das crianças,  a justiça concedeu a guarda para os dois, ela tem medo de viajar sozinha e deixar os filhos, pois o pai das crianças ameaça ela dizendo que se ela voltar ao Brasil ela perde a guarda das crianças, e isso fez com que ela não pudesse vir para o Brasil para visitar a sua família até os dias de hoje, ela está esperando que as Crianças completem a maioridade para poder vir visitar sua mãe no Brasil.  A sua mãe é analfabeta muito pobre e não tem condições de viajar para Itália para visitar a filha, e a filha não tem condições de mandar o dinheiro da passagem para mãe e para uma acompanhante então Isso dificulta muito o encontro das duas. A mãe está esperando que os netos completem a maioridade para filha poder voltar ao Brasil.

O que aprendeu e porta em seu coração deste seu compromisso no enfrentamento ao tráfico de pessoas? O que significa para você participar da Rede Talitha Kum?

O que eu aprendi nesse tempo é que já fazem mais de 10 anos de trabalho é que as pessoas são únicas eu nunca me importei com o número quantas pessoas a gente atende o quantas pessoas são vítimas do tráfico e sim me dou conta de cada pessoa é única cada pessoa é uma pessoa e quando a gente consegue ajudar uma pessoa essa pessoa é 100% e ela é uma pessoa que tem dignidade que tem direitos e que merece ser livre e viver feliz.

Para mim participar da Rede Um Grito Pela Vida e da rede Talita Kun que agrega as demais redes em nível de mundo, de continentes é muito importante pois contribui para a articulação das forças para o intercâmbio de experiências e sobretudo para o fortalecimento das redes nos países e também esse intercâmbio e trocas de experiencias e sobretudo da entre ajuda. A Rede Talita Kun nos ajuda a manter o elo entre as redes continentais e anima a Vida Religiosa Consagrada, a Igreja a assumir a causa do Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

Por favor, nos deixe uma mensagem final.

Oxalá pudéssemos sensibilizar a Humanidade para essa realidade do crime do tráfico de pessoas mas não só sensibilizar, mas mobilizar as pessoas para que cuidem da vida sobretudo daquela vida que é mais ferida que se encontra em situação de maior vulnerabilidade,  desejo que cada uma a partir do seu espaço fortaleça os nós dessa grande rede que une sonhos que une energias boas que une a certeza e a esperança de que é possível uma vida sem a violência sem o crime do tráfico de pessoas .